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Foto do escritorjade turquesa

A vizinha silenciosa.

Quando me mudei, fui lentamente me apresentando à nova vizinhança, embora a curiosidade das paredes mais próximas fosse ligeira, incansável e exigente.

Muitas novas regras me foram apresentadas, ai como é duro decorar a nova cartilha, que letrinha pequena (nem marcador de página, tenha dó).

Adivinhe o que estava em negrito na bula? Rua silenciosa.

Pânico total. Como fui parar numa rua silenciosa, poucas casas, moradores antigos (20, 30 anos de praia...e nem um grão de areia dentro de casa). Uma limpeza vista e cheirada de fora da residência. Coisa de Pinho Sol, antigo mas cheiroso.

E o que eu tinha a dizer....chegueiiiiiii. Eu e mais vários cães!

Pensei, vou educar os cães. Ai ai, santa e tonta inocência.

Bem, vou abreviar a estória, pular o derramanento de lágrimas, as noites pensantes (noite pensa?), os dias dizendo CHIUUUUUUU, QUIETOOOOOS. Quem tem cachorro sabe, não adianta.

Passei muito tempo encolhida, achava que estava incomodando...acho que estava.

Por um triz não coloquei uma placa na porta escrito "se amas o próximo, não toques na campainha", juro.

Passada quase uma década, hoje, por força de modiificação do plano diretor da cidade de São Paulo (nem me lembra dessa parte) aquela rua silenciosa se transformou no canteiro de construção de 5 torres de 30 andares, Duas delas já construídas e três indo...peraí, fui olhar agora, faltam 24 andares nas outras 3 torres.

Sentiram o panorama atual? Já viram o filme Terremoto? Fraco.

Resultado, meus cães continuam os mesmos. Latidos abafados não por mim mas pelos gritos, piadas, xingamentos dos trabalhadores, ou melhor, vizinhos na obra. Afinal, ninguém trabalha mudo, não é? E o virus não parou a construção civil. São heróis, chegam as 6 horars. Bate estacas, caminhões, troca de postes, muito mas muito mas muito pó.

As noites continuam mal dormidas e pensantes nos caminhões de concreto (o concreto tem que ser sacudido, revirado, por isso o caminhão e o liquidificador não podem ser desligados, sabia?). Que barulho insistente que rasga a madrugada (nem lembro mais do silêncio)!

Outro dia encontrei uma vizinha. Ela olhou bem para mim e gritou bem alto "saudade dos latidos". Sofri à toa.




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1 Comment


mariafranciscamotta
Apr 08, 2020

Que crônica deliciosa de se ler! Adorei, Jade!

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